A encenação de “O Idiota” parte de uma comunhão, conceitual e prática, entre todos os participantes, incluindo atores, técnicos e público em um mesmo rito de amor incondicional. O percurso do espetáculo, como nos passos da Paixão de Cristo ou nos Mistérios medievais, pressupõe um percurso em comum, onde se revive uma história que já aconteceu e que nos pertence simbolicamente. Todos os oficiantes identificam-se, então, com a fé no amor, mas, também, com a tragédia que se abate sobre ele e suas razões e “desrazões”. A contradição entre o amor incondicion al e a realidade da convulsão das paixões humanas, entre o bem estar comum e o bem estar individual, ecoa na consciência e na responsabilidade de cada um de nós. A tragédia acontece sempre por um triz, pela desmedida humana, acolhida pela coletividade, cúmplice. A catarse dessa tragédia é coletiva e o teatro busca retomar um papel como festa e rito da pólis. Onde os indivíduos se percebem como agentes fundamentais do coletivo.
O percurso pressupõe uma transformação dos indivíduos que dela participam. Cada passo ou estação instaura um lócus especial, onde se dá uma parte fundamental da Paixão e Fé do Príncipe Idiota. Todos somos atores dessa tragédia, fazemos parte de um mesmo mundo, viajamos, comemos e festejamos com ele... amamos o seu amor incondicional que nos enche de possibilidade e sofremos com o rumo dos acontecimentos trágicos, para onde a história vai, todos percebemos a nossa tragédia anunciada, o Idiota morre por nós para que possamos viver esta Paixão.
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