em breve O DUELO !

em breve

O DUELO
de Tchekov

direção Georgette Fadel

mundana companhia


link para Pais e Filhos
http://paisefilhosteatro.com/
conheça o processo de montagem

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Ultima apresentaçao no Ceará

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

fotos dia 10 do 11 do 10 -xamanico-

fotos de Silvio Restiffe durante o reconhecimento do terreno terreiro teatro arena subsolo passagens laterais algumas fotos jaja tem mais madrugada Kolia plugado do Ceará pro mundo postando o mundo dos idiotas ouvindo jards macale as duas e nove da madruga so para transmitir o triangulo quadrado tudo oval merda! macao! merda idiotas! do Ceará nos resta transmitir a idiotagem no pais da iracema e da cobra grande











aventura IDIOTA na terra do sol


Terra do sol do amor
Terra da luz

Os IDIOTAs desembarcam e ocupam todos os espaços do
Theatro José de Alencar - TJA
A peça em sua primeira temporada no Sesc Pompéia como as apresentações
no Festival Mirada, era divida em três dias,três partes.
Agora o público do Ceará poderá viver a história inteira, corrida,
com dois intervalos, claro!. O primeiro de 30 minutos e o segundo de 15 minutos.
Com a ocupação total do teatro pelo espetáculo-novela O IDIOTA o público poderá conhecer no decorrer das sete horas de espetáculo a arquitetura, a história de José de Alencar, percorrendo com os atores os corredores salas subterrâneos etc.

2010 Ano Cem do TJA
O Theatro José de Alencar foi inaugurado oficialmente no dia 17 de junho de 1910, com a banda sinfônica do Batalhão de Segurança, regida pelos maestros Luigi Maria Smido e Henrique Jorge. Na praça, rodas de fogo, morteiros, foguetes e girândolas num verdadeiro milagre pirotécnico, abrilhantavam a festa. No início do século, ao fazer o projeto arquitetônico do Theatro José de Alencar, o capitão Bernardo José de Mello imaginou um teatro - jardim.Mas o jardim mesmo só foi construído anos depois da festa de inauguração, na reforma de 1974 a abril de 1975. Ele ocupa todo o espaço vizinho ao Theatro, pelo lado leste, onde havia antes um prédio que primeiro abrigou o Quartel de Cavalaria e em seguida o Centro de Saúde. Foi demolido em 1973.

Horários de funcionamento
TJA Praça José de Alencar, s/n, Centro
Cena (anexo TJA) rua 24 de Maio, 600, Centro
Terça à sexta a partir das 8h – sábados, domingos e feriados a partir das 13h
Bilheteria terça à sexta das 13h às 17h. Havendo espetáculo com bilheteria (terça a domingo, feriados inclusos), das 13h até 30 minutos antes do início do espetáculo

O Idiota
Uma novela teatral de Dostoievski. Cia Mundana de Teatro (SP)
18h em vários espaços01 livro novo ou usado 16 anos 150 lugares







veja a programação completa no site do Centro de Fortaleza

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

TCHEKHOV 4 potência - fotos Cacá Bernardes


Silvio Restiffe em cena como Trépliev


VEJA MAIS FOTOS dos exercícios aos olhos de Cacá nos slides

sábado, 25 de setembro de 2010

a Cooperativa de Teatro de São Paulo indica o elenco de O IDIOTA

3ª edição do Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro

foto Aury Porto, Vanderlei Bernadino, Luiz Mármora, Sérgio Siviero, Lu Favoreto, Fredy Állan, Sylvia Prado, Silvio Restiffe, Otávio Ortega, Ivan Garro e Luah Guimarães

Elenco – Em espetáculo apresentado em sala convencional, rua ou espaço não convencional
Espetáculos:
– O Errante (Brava Companhia)
Rafaela Carneiro, Max Raimundo, Márcio Rodrigues, Luciana Gabriel, Fábio Resende, Ademir de Almeida.

O Idiota (Espetáculo com atores de cinco companhias teatrais diferentes – Cia. da Mentira, Vertigem, Teatro Oficina, Livre e Mundana).
Aury Porto, Fredy Allan, Luah Guimarãez, Lúcia Romano, Luis Mármora, Sérgio Siviero, Silvio Restiffe, Sylvia Prado, Vanderlei Bernardino e Otávio Ortega


– Conjugado (Cia. Estável de Teatro, Dolores Boca Aberta e Nhocuné Soul)
Andressa Ferrazi, Luciano Carvalho, Osvaldo Hortencio, Renato Gama e Tati Matos.

confira no site da Cooperativa os indicados e categorias.

MERDA a todos

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A quarta potência de Tchekhov, revelada por um russo e dez brasileiros

Em São Paulo, a Funarte comemora os 150 anos de Tchekhov com série de intervenções e promove encenação inédita com a Cia. Mundana e o diretor Adolf Shapiro, de Moscou

por Neide Jallageas e Alvaro Machado

Comemora-se em todo o mundo, neste ano, o nascimento do médico, escritor e dramaturgo russo Anton Tchekhov (1860-1904), um dos criadores do conto moderno. Em São Paulo, está em curso um evento que, para homenagear o autor, reúne as vertentes da encenação teatral, da literatura, da dramaturgia, da performance e das artes visuais, além de colaborações da área acadêmica. O Espaço Tchekhov 2010 se desenvolve no Complexo Cultural da Funarte, na região central de São Paulo.

O projeto recebe apoio dos Ministérios da Cultura do Brasil e da Rússia (Festival Tchekhov de Moscou) e consiste em um conjunto de intervenções artísticas que se dá na confluência de encenações, instalações e mostras documentais em um espaço cênico-cenográfico. A programação completa está na página da Funarte.

Uma dessas intervenções traz a montagem teatral Tchekhov 4 – Uma Experiência Cênica (em cartaz até 10 de novembro, de segunda a quarta, 20h30, grátis), apresentada pela Cia. Mundana (Aury Porto, Luah Guimarãez, Fredy Állan, Lúcia Romano, Sylvia Prado, Sérgio Siviero, Silvio Restiffe e Vanderlei Bernardino), mais as atrizes Tieza Tissi e Priscilla Herrerias. A apresentação marca um fato inédito na cena teatral brasileira: pela primeira vez um diretor russo, Adolf Shapiro (1939), desloca-se de seu país especialmente para montar uma proposta cênica com atores brasileiros.

O estágio junto ao renomado encenador é o segundo investimento do grupo paulista em autores russos. A Mundana reúne atores de companhias paulistas que se distinguem por trabalhos experimentais (como Oficina e Vertigem) e o seu elenco traz, fresca na bagagem, a experiência da transposição de Dostoiévski O Idiota – Uma Novela Teatral, sob direção de Cibele Forjaz (Cia. Livre) que, após uma bem-sucedida carreira paulista, está iniciando turnê pelo Brasil.

Shapiro é considerado internacionalmente um dos maiores diretores russos vivos, ao lado de Valéri Fókin (1946) e Anatoli Vassilievi (1942). Há mais de trinta anos vem desenvolvendo uma metodologia de trabalho com atores a partir dos ensinamentos de Constantin Stanislávski (1863-1938). De 1962 a 1992, dirigiu o Jovem Teatro de Riga (cidade onde nasceu Sergei Eisentein, na Letônia, um dos países que integrava a extinda União Soviética). Desde 1993, com o fechamento desse teatro por ordem do Ministro da Cultura da Letônia, Shapiro trabalha como diretor independente, conduzindo master classes junto a companhias do mundo todo.

Aluno de Maria Knebel (1898-1995), pupila dileta de Stanislávski, Shapiro tem-se distinguido por recuperar a essência do método stanislávskiano, que os censores soviéticos, tutores do realismo socialista, encobriram com suas próprias camadas autorais a partir da década de 1930. Por isso, sua vinda ao Brasil e este trabalho com atores para a montagem de Tchekhov4, sugere apenas um primeiro passo para colaborações vigorosas em torno de um processo de revisão de centenário método de interpretação, ainda indispensável para as artes cênicas.

Para a encenação Tchekhov4, Shapiro selecionou quatro fragmentos das peças mais celebradas do autor: o primeiro ato de A Gaivota, o segundo de Tio Vânia, o terceiro de O Jardim das Cerejeiras e o quarto de As Três Irmãs. O resultado é supreendente, pois o mundo interior de cada personagem do fragmento de uma peça parece conduzir ao mundo interior das personagens do ato seguinte, como se o tempo orquestrado para que essa interioridade se pronuncie estivesse na cadência de uma única peça. Pode-se também avaliar que as peças escolhidas estruturam-se, elas mesmas, como colagens de fragmentos, caracterizando-se, em várias passagens, por diálogos que se sobrepõem e que tornam essas passagens quase independentes umas das outras. Este procedimento pode remeter, ainda, ao processo de estruturação dos contos tchekhovianos. É o próprio Tchekhov quem afirma, em carta ao escritor russo Dmitri Grigoróvitch , que “Cada capítulo constitui um conto à parte, e todos os capítulos estão ligados em íntima relação, como as cinco figuras da quadrilha. Estou me esforçando para que eles tenham o mesmo aroma e o mesmo tom, o que poderei conseguir mais facilmente por haver uma personagem que atravessa todos os capítulos”. Pois parece que Shapiro e os atores conseguiram também, em sua combinação dos quatro títulos mais conhecidos do dramaturgo, um percurso com unidade de aroma e de tom.

No prefácio de uma das traduções de As Três Irmãs disponíveis no Brasil (Editora Peixoto Neto, 2004) , a pesquisadora moscovita radicada no Brasil Elena Vássina lembra que Tchekhov afirmava que, passados sete anos de sua morte, não mais seria lido. Mal imaginava o autor que decorridos 150 anos de seu nascimento ele seria, ao lado de Shakespeare, o autor mais encenado no mundo. E, ainda, que um país tão remoto em sua cartografia pessoal, como o Brasil, provocaria o deslocamento de um de seus mais destacados encenadores para montar fragmentos de suas peças junto a atores brasileiros.

A concepção de Espaço Tchekhov 2010 é dos produtores Ricardo Muniz Fernandes e Matias Pez, junto a Elena Vássina, que também é professora da USP. O aporte financeiro é resultado da parceria entre a Funarte e o Festival Internacional Tchekhov de Moscou. A colaboração entre os produtores de São Paulo e Moscou já havia rendido frutos em 2006, com um evento patrocinado pelo SESC e levado em três estados: a Estação de Teatro Russo – Brasil, seleta do que há de melhor em montagens russas contemporâneas do teatro russo clássico. Mas a parceria é, ainda, de mão dupla. Em 2009, grupos brasileiros, como o Oficina, a Cia. de Atores (RJ) e o Caixa de Imagens, este também presente no Espaço Tchekhov 2010, apresentaram trabalhos em Moscou.

O figurino de Tchekhov4 foi especialmente desenhado por Simone Mina, a partir de pesquisa de materiais e texturas e a cenografia dos quatro espaços por onde os atores se deslocam (e demais dependências do conjunto do evento) é assinada por Hideki Matsuka, que trabalhou anteriormente na montagem da exposição-intervenção Tokyogaqui (2008, SESC Paulista).

Segundo os atores agrupados hoje em torno da Cia. Mundana, a experiência com Shapiro significa um pequeno passo na longa jornada adentro das possibilidades de inter-relações entre as culturas russa e brasileira, como contam na entrevista a seguir.

*

Como se deu a formação do núcleo de atores para a adaptação teatral de O Idiota, que está na base da atual encenação de Tchekhov?

Aury Porto – Eu e Luah Guimaraes fundamos a Mundana Cia. de Teatro em 2007 e fizemos alguns trabalhos nos quais atuávamos nós mesmos. Então, para a adaptação de O Idiota, que foi uma ideia nossa, convocamos gente da cena teatral paulista com afinidades eletivas, profissionais, estéticas e geracionais. São atores de várias companhias, que, a partir de outubro de 2009, juntaram-se para a montagem da obra de Dostoiévski. Vieram da Cia. Livre, dirigida por Cibele Forjaz, do Teatro Oficina, de Zé Celso, do Teatro da Vertigem, de Antonio Araujo. Havia, enfim, esse pensamento de unir pessoas com diferentes experiências, como forma de troca, de enriquecimento do processo de montagem de um texto. Fica, então, a possibilidade de o grupo representar, de certa maneira, o movimento teatral paulista, com artistas mais maduros de cada companhia.

Como Cibele Forjaz chegou a dirigir essa nova companhia?

Luah Guimarãez – Convidamos Cibele para dirigir O Idiota já em 2008. Havíamos feito toda a pesquisa dramatúrgica extensa com o ator e diretor Vadim Nikitin, que infelizmente não foi até o final do trabalho por questões de saúde, pois havia um prazo para término. Então o Aury Porto assumiu sozinho e bravamente o processo dramatúrgico, pois eu estava amamentando então.

E como passaram para o segundo projeto com autor também russo, Tchekhov?

Luah – Em junho último, Ricardo Fernandes assistiu a O Idiota e convidou todo nosso grupo para a ocupação Tchekhov na Funarte. Elena Vássina, que já havia sido muito importante em todo o processo de criação de O Idiota, também foi responsável pelo convite. Assim, eles nos convidaram para trabalhar com Shapiro, o que gerou a montagem Tchekhov à Quarta Potência – Uma Experiência Cênica. O projeto nos deu muita alegria, pois além da experiência com um renomado mestre contemporâneo da direção, permitiu que continuassemos juntos até a retomada de encenações de O Idiota.

O que podem dizer que aprenderam no trabalho com Shapiro?

Aury – Achamos tudo surpreendente: foi muito mais forte, interessante, instigante e apaixonante do que aquilo que esperávamos. Nenhum de nós conhecia o Shapiro, nem tinha assistido a trabalhos dele, nem sequer em video. No entanto, houve uma decisão coletiva do grupo de passar por essa experiência. Por outro lado, passar por Shapiro e Tchekhov contribuiu para o enriquecimento da retomada de Dostoiévski.

Em O Idiota, na qual a dramaturgia abordou um único texto, existem, de maneira contrastante, vários percursos diferentes, diversos espaços de encenação propostos ao público, que também é convidado a interagir com vocês. Agora, em Tchekhov, existem quatro fragmentos de obras. No entanto, a característica de várias espacialidades se repete. Como interpretam essa permanência?

Aury – Quando fomos chamados para o Espaço Tchekhov já existia essa idéia de transitar por vários espaços, porque iríamos interferir sobre a exposição como um todo, e esta ocupa boa parte dos espaços da Funarte em São Paulo. Só que nosso trabalho com Shapiro começou antes da montagem dessa cenografia, representou a vanguarda desse projeto brasileiro para os 150 anos de nascimento de Tchekhov.

Luah – Já em nossa primeira semana de análise de textos com Shapiro, os atores da companhia manifestaram a vontade de fazer cada um a peça de sua preferência, o que implicaria vários cenários, bem diferentes entre si. Então essa hipótese foi lançada ao diretor, porém mais como uma “brincadeira”. Era algo bem mais certo, para nós, que faríamos a verticalização, o aprofundamento em uma só obra. Mas, para nossa surpresa, Shapiro adotou a montagem de quatro fragmentos, coisa inédita tanto para ele quanto para o teatro mundial. E dos 45 minutos propostos pela produção do evento, passamos a uma hora e meia de encenação .

Como Shapiro avaliou a experiência?

Aury – Ele disse que dificilmente conseguiria fazer isso na Rússia ou na Europa, pois, segundo ele, os atores de lá não revelam a mesma abertura. É, de fato, uma maneira inédita de fazer Tchekhov. Mas, por outro lado, a estrutura das quatro peças abordadas é semelhante. São quatro peças com quatro atos que vão seguindo numa estrutura parecida. Nos ensaios do nosso segundo ato, retirado de Tio Vânia, Shapiro enfatizava muito, por exemplo, que todo segundo ato de Tchekhov é muito difícil, porque é nesse ponto que os conflitos começam a se delinear. Assim, o segundo ato de O Jardim das Cerejeiras, se fosse feito, nos daria o mesmo trabalho enorme que nos deu o segundo ato de “Tio Vânia”. Ensaiamos muito mais tempo este ato que os outros.

Sérgio Siviero – Ele falava, ainda, que os primeiros atos de Tchekhov costumam ser como a demonstração de um mundo paralisado, no qual o herói é o tempo e as coisas não acontecem, estão em suspenso. Já no segundo ato revelavam-se as oposições e os conflitos; no terceiro ato eclodem os conflitos; e no quarto volta o clima do primeiro ato, mas a vida então já se alterou profundamente.

São quatro peças com muitas soluções fragmentárias, que vocês, por sua vez, re-fragmentaram…

Vanderlei Bernardino – Além do mais, Shapiro é um grande pedagogo e veio nos transmitir a técnica de estilos de interpretação stanislavskiana. É bom lembrar que essas quatro peças surgem mais ou menos ao mesmo tempo que o nascimento do Teatro de Arte de Moscou [criado por Stanislávski]. E que um dos mestres de Shapiro, Maria Knebel, trabalhou diretamente com Stanislávski. Assim, percebemos que existe, no Brasil, uma defasagem muito grande entre o que Shapiro nos mostrou e o que aprendemos na escola, ou sozinhos, com os livros. Não há, por aqui, professores com esse domínio.

Luah – Uma ressalva: eu também não tive um realismo bem dado na escola, mas a gente aprende muito com a experiência com cada encenador, em cada montagem que vivemos. O filtro de cada diretor para o método Stanislávski sempre está presente. Mesmo Shapiro tem o seu modo próprio, pois ele é muito influenciado por Brecht. Ele ficou o tempo inteiro colocando-nos numa espécie de trilho que alternava o método Stanislávski e o método Brecht.

Aury – Mas o que ele nos apresentou de realismo, eu nunca vi por aqui. Nós estamos, no Brasil, muito mais para o melodrama. Os diretores brasileiros nos levam mais para esse lado.

Luah – Ele costumava nos dizer: tire as necessidades da cena de seu próprio parceiro e não traga para a cena o que você pensou em casa. Isso acionava uma ação física muito forte, uma conexão profunda com o outro. Esses exercícios, por sua vez, influíram sobre a retomada das encenações de O Idiota. Nossa temporada anterior, de seis semanas, havia gerado uma espécie de música em nossa cabeça, uma partitura que seguíamos nas apresentações. Após Shapiro, no entanto, tive de lembrar dessa música, dessa tonalidade que havia, mas também me voltei muito mais ao parceiro e repensei cada cena, pois eu não era mais a mesma depois de Shapiro.

Vanderlei – O primeiro a sistematizar uma maneira de atuar é Stanislávski. Brecht, Meyerhold e outros vêm atrás. Mas o que temos desde então pelo mundo, com relação ao método Stanislávski, é muito pulverizado e temos de recuperar as coisas de modo intuitivo. Já Shapiro tem isso tudo sistematizado, pois bebeu na fonte. Então ele nos colocou nesse trilho, nos deu um alicerce.

Luah – A ideia de trilho é muito interessante, trata-se de um porto seguro para momentos em que, por exemplo, você não sabe o que fazer com as mãos. Ziembinski, por exemplo, veio com um pouco dessa técnica de interpretação, mas fora isso e pouca coisa mais, não há passagem direta desse método entre nós. Diferente dos EUA, em que o método aconteceu, com o Actor`s Studio e outras escolas ensinando técnica e metodologia. Aqui não temos essa tradição pedagógica sistematizada.

Aury – Estamos falando do realismo, de um sistema especifico de atuação, e das diferenças entre o que aprendemos antes sobre esse estilo e do que Shapiro nos trouxe. Não estamos falando de Commedia del’Arte , nem do método Clown ou de outras técnicas, mas do método Stanislávski e do realismo. De como ele foi se deteriorando e os atores acabam se aproximando dele intuitivamente, de como o método não se encontra estabelecido no Brasil, mesmo de maneira “digerida”, pois na raiz existe, de fato, um método estabelecido.
Isso ficava muito claro nos ensaios: por exemplo, quando Shapiro nos mostrava que estávamos expressando os nossos próprios sentimentos mais do que vivendo e realizando a ação teatral. São coisas sutis, mas que fazem enorme diferença no resultado final. Na expressão melodramática costumamos expressar bastante os sentimentos, o que é muito interessante, mas não se trata de realismo.

Sérgio – E de certa forma realismo é sistema básico para qualquer outra coisa no teatro. Se o dominamos, se nos apoderamos dessa forma, ela serve para muita coisa, o que não acontece com outras técnicas.

Aury – Os artífices da telenovela brasileira atual, por exemplo, acreditam estar fazendo algo realista, mas isso não tem nada que ver com o universo do método Stanislávski e, na verdade, nem se trata de realismo de espécie nenhuma, é algo muito tosco. No realismo, a ação teatral, o jogo entre os atores, é o mais importante.

Quando se considera por exemplo, o que Zé Celso Martinez Corrêa fez com As Três Irmãs (São Paulo, 1972), no qual a história do próprio Oficina se colocava, uma montagem em que se percebia individualidades fortíssimas no jogo cênico, a ponto de Renato Borghi ter rompido com o grupo durante uma representação, isso não tem muito que ver com o método…

Aury – Não há necessariamente a oposição que você procura apontar, pois nos métodos Stanislávski ou Brecht os atores colocam-se, sim, pessoalmente; respeita-se as diferenças de ator para ator e a carga pessoal de cada um encontra-se bastante presente. Cada ator pode, sim, interpretar de uma maneira particular, tanto que o próprio Shapiro já montou cinco vezes O Jardim das Cerejeiras e diz que o resultado é sempre diverso. O artista se revê sempre.

Luah – Shapiro foi muito sábio ao distribuir os papéis, em perceber as adequações. Eu havia declarado a ele que gostava muito de Tio Vânia. No entanto, para o ato dessa peá que interpretamos, ele me destinou apenas uma aparição rápida .

Vanderlei – Ele não nos dirigiu genericamente, mas particularmente a cada ator, distinguindo sempre o que pertencia ao método e o que pertencia à pessoa.

Aury – Ele nos dizia coisas como: “Eu dou um remédio diferente para cada ator” e “Conheço mais os atores do que a mim mesmo”. Shapiro identificou em nós coisas de que não suspeitávamos.

Como um maestro que conhece perfeitamente todos os instrumentos da orquestra?

Sérgio – Sim, e mais do que isso: como aquele que sabe que tal sopro, interpretado por tal pessoa, soará de tal maneira. Assim, as individualidades são respeitadas e preservadas. O objetivo da cena sempre acontece, mas com ações completamente diferentes, dependendo de quem assume cada papel.

Adolf Shapiro comparou o resultado de Tchekhov à Quarta Potência com outras encenações que orientou na Europa?

Aury – Em nossa conversa final, Shapiro comparou o resultado com duas experiências de outros países e disse-nos que jamais havia trabalhado com um núcleo cujos elementos se integrassem tão bem. Afirmou que isso é uma preciosidade e que percebia muita maturidade nas relações entre os atores. Em outros lugares, a disputa interna é muito grande e no plano artístico há limitações que nem passam por nossa cabeça. A liberdade estética é um ponto em nosso favor em comparação com os europeus. Eles têm os patrocínios e as infra-estruturas, mas ficam barrados por certas questões estéticas.

Vanderlei – Talvez isso tivesse acontecido aqui também, caso ele escolhesse atores de diversas proveniências ou gente mais inserida no chamado mercado teatral. A diferença foi encontrar um grupo com as nossas características e sintonia.

O que o diretor acrescentou, para vocês, quanto à compreensão das peças de Tchekhov, muitas vezes consideradas herméticas?

Luah – Shapiro foi desvendando Tchekhov através desses trilhos do método Stanislávski e também das técnicas ligadas a Brecht. Nós dizíamos: “Mas esse texto acaba ficando bem chato, parece que os personagens estão sempre no mesmo lugar, é um tédio”. Mas ele foi separando as diversas camadas existentes em cada texto e nos mostrou que a vida pulsava ali. Pode resultar tedioso para algum espectador, mas, internamente, as coisas estão pegando fogo.

Sobre a questão do tempo, observamos que tanto em O Idiota quanto em Tchekhov4 o tempo interno das ações foi muito bem trabalhado pela companhia. A questão das pausas, por exemplo. Como isso foi desenvolvido?

Aury – Nosso trabalho sempre foi orientado por uma fala do personagem do Príncipe Michkin em O Idiota. A frase “Meu tempo é inteiramente meu” nos ajudou muito desde os ensaios. Por outro lado, as maneiras de Shapiro e de Cibele Forjaz lidarem com o tempo guardam muitas semelhanças entre si. Houve mesmo uma coincidência curiosa: quando Shapiro conheceu Cibele, ele nos disse que ela lhe lembrava muito a sua mestra do método Stanislávski, Maria Knebel.

Vanderlei – Tanto ele quanto Cibele são apaixonados pelo ator, e nas montagens de ambos o espetáculo é sempre conduzido pelo ator. Há muitos diretores que não gostam de atores…

Sérgio – Foi muito forte para mim o aprendizado sobre de que forma nós, atores, podemos colocar o tempo a nosso favor. O quanto podemos construir o tempo de uma determinada ação para o grande momento que é a pausa, ou seja, para o momento em que as mudanças internas ou externas realmente acontecem. Fiquei muito impressionado com isso.

Luah – A pausa não significa que você parou, ou que as coisas estão paradas, mas que ali está acontecendo uma transição bastante forte.

Aury – Até mesmo quando nos contava historias sobre Tchekhov, Shapiro usava essa técnica. Subitamente parava a narrativa sobre algum episódio da vida do escritor e deixava tudo em suspenso, não dando, às vezes, nenhuma sequência à história.

O ator sueco Erland Josephson, ao trabalhar com o cineasta Andrei Tarkóvski em O Sacrifício (1983) dizia-se muito aflito por temer não conseguir acompanhar os tempos muito distendidos do diretor. São momentos de transição quase catárticos dentro dos filme do russo…

Aury – Shapiro diz que filmes com muitas sequências de pura ação fazem-no abandonar imediatamente a sala, pois ele percebe que esse tipo de narrativa não tem muito conteúdo e não permitem que o tempo se instaure, para que as coisas realmente aconteçam… Ação em cima de ação, como na maioria dos filmes norte-americanos, não significa necessariamente que algo está sendo dito ou acontecendo.

Sérgio – Outra coisa que Shapiro diz, a respeito do tempo em Tchekhov: “Nesse autor não existe nenhum personagem que seja o herói. O grande herói em Tchekhov é o tempo”.

São quatro espaços cenográficos bem diversos entre si nesta montagem. Quem os concebeu?

Grupo – Hideki Matsuka responde pela cenografia da montagem e de toda a exposição, mas quem norteou os espaços e os contrastes muito fortes entre branco e preto nos espaços de Tchekhov, mais a iluminação, foi Shapiro. No entanto, parece-nos que o fio condutor de tudo não foi tanto a cenografia estabelecida, mas o trabalho com os atores sobre os textos.

Luah – Shapiro lembrou que, na Europa, costuma fazer cerca de quatro meses de études (estudos) com os atores até chegar a algum resultado. No entanto, fizemos tudo em três semanas, e foi como fazer toda uma faculdade de teatro nesse tempo. Talvez voltemos a trabalhar juntos: há um desejo dele, e também um desejo nosso de aproveitar melhor esse presente que nos foi dado.

Há interesse da companhia por outros atores russos?

Aury – Pessoalmente tenho interesse por um texto de Maiakóvski, mas não há nenhuma intenção nossa de especialização em autores russos. No entanto, Shapiro entrou em nossa vida e será bom continuar nessa trilha mais um pouco.

Vanderlei – Desde o final do século passado notamos uma grande retomada dos autores russos, com as suas utopias do final do século XIX.

Quais as impressões de Shapiro sobre o Brasil? Ele externou alguma opinião?

Diego Moshokovshi (tradutor e assistente de Shapiro em sua passagem pelo Brasil) – Ele foi embora dizendo que a diferença cultural era algo muito engraçado, pois percebia através do comportamento e das relações entre as pessoas dentro do próprio aparelho teatral, com a produção etc., que o Brasil é um pais muito jovem e que há muito ainda a ser explorado.
Eu acho que as companhias européias costumam reproduzir esquemas velhos. E no Brasil, mesmo atores com mais idade, quando comparados a equivalentes europeus, revelam espírito jovem e um comportamento revolucionário. Zé Celso Martinez Corrêa é um exemplo.

Shapiro conhecia autores brasileiros?

Diego – Em russo, há publicado muita coisa de Jorge Amado, que ele conhecia, mas disse que nunca foi muito entusiasmado com esse autor, pois era um dos nomes enquadrados na apologia comunista, enquanto ele era um crítico do sistema. Do nosso teatro, ele não conhecia nem Nelson Rodrigues, nem Ziembinski.

Como vocês sentiram a partida do diretor, quando tiveram de assumir sozinhos a finalização da montagem, já nos cenários prontos?

Luah – Nunca me senti tão órfã depois da partida de um diretor, mas ele continua nos mandando recados através do tradutor, Diego. Por outro lado, lembro que o diretor Marcio Aurélio, em suas montagens mais antigas, também revelava essa qualidade de grande pedagogo.

Sérgio – Senti-me órfão de mestres, pois há tão poucos por aqui, especialmente no teatro. Além do mais, no contato particular, pessoal, o Shapiro também é uma pessoa muito especial.

Vanderlei – Não porque ele tenha lido muitos livros, mas pelo entendimento da vida e pela generosidade.

Aury – Zé Celso também pode ser considerado um mestre.

http://www.operaprima.art.br/revista/?p=822

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

OS IDIOTAS transfusão Dostoiévski Tchekhov

Russo Adolf Shapiro encena Tchecov com atores brasileiros
A GAIVOTA TIO VÂNIA O JARDIM DAS CEREJEIRAS AS TRÊS IRMÃS


Montagem propõe diálogo entre dramaturgo e método Stanislavski

GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O diretor Adolf Shapiro, um dos maiores nomes do teatro russo contemporâneo, não lembra quantas vezes encenou Anton Tchecov. Sabe que "O Jardim das Cerejeiras" já ganhou quatro versões suas. E que Tchecov é inesgotável.
Que mal há então em revisitar, mais uma vez, a obra do russo que mudou o curso da dramaturgia ocidental? A convite da Funarte, Shapiro preparou um exercício cênico com atores brasileiros (os mesmos do espetáculo "O Idiota", de Cibele Forjaz) a ser encenado a partir de amanhã na sede da instituição.
Como base do trabalho, Shapiro usa quatro atos de quatro peças diferentes de Tchecov: "A Gaivota", "Tio Vânia", "O Jardim das Cerejeiras" e "As Três Irmãs". As cenas se intercalam com um objetivo primeiro, de destilar o trabalho dos intérpretes pelo método Stanislavski, pilar do teatro contemporâneo.
Stanislavski foi conterrâneo e contemporâneo de Tchecov. Com ele nasceu a ideia do diretor de teatro, conta Shapiro. Até hoje, são poucas, senão inexistentes, as escolas de interpretação que não tomam por base o método por ele criado.
A opção de intercalar trechos desnuda outra questão. Tchecov criou um estilo de dramaturgia que Shapiro chama de "centrípeta". As histórias paralelas e as personagens secundárias exercem uma força motriz sobre o núcleo da peça.
É o contrário de "Hamlet", para citar a dramaturgia clássica. Na obra de Shakespeare, diz Shapiro, a força parte sempre do centro em direção à margem.
"Essa arquitetura é a mesma nas quatro peças", diz o diretor, explicando uma possível sensação de continuidade ao articular atos de textos diferentes.

(texto retirado do blog http://franciscoripo.blogspot.com/2010/09/tchecov.html / visitem!)





De 17 de setembro a 10 de novembro, a Funarte inaugura ocupação de dois meses no seu Complexo Cultural em São Paulo com espetáculos de teatro, exposição, workshops e debates dedicados ao 150º aniversário do nascimento do autor russo.











TCHECOV4 - UMA EXPERIÊNCIA CÊNICA
ONDE Funarte (al. Nothman, 1.058, tel. 3822-5671)
De seg. a qua., às 20h30. De 20/9 a 29/9 e de 18/10 a 10/11
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO 14 anos

http://catracalivre.folha.uol.com.br/2010/09/funarte-inaugura-ocupacao-cultural-de-dois-meses/

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Festival MIRADA ocupação no PORTO

Amor e morte no cais do Porto de Santos
ocupação de O IDIOTA no galpão
http://www.sescsp.org.br/mirada/





























direção: Cibele Forjaz
elenco: Aury Porto, Fredy Allan, Luah Guimarãez, Lúcia Romano, Luís Mármora, Sergio Siviero, Silvio Restiffe, Sylvia Prado e Vanderlei Bernardino, Otávio Ortega

FESTIVAL MIRADA
Parte 1 – dias 6 e 9 de setembro
segunda e quinta | 20h • duração 2h40
Parte 2 – dias 7 e 10 de setembro
terça e sexta | 20h • duração 2h
Parte 3 – dias 8 e 11 de setembro
quarta e sábado | 20h • duração 2h
no Galpão do Porto } Armazém VII A

domingo, 15 de agosto de 2010

O IDIOTA volta no MIRADA




"(...)A produção deste ano reúne criadores ligados ao Teatro de Grupo em São Paulo. A recriação do clássico de Dostoiévski teve boa repercussão crítica e ingressos esgotados. No Brasil, o substantivo “novela” é mais associado à trama em episódios na TV do que à narrativa literária. O subtítulo refere-se às três partes, uma por noite, em que o espectador pode acompanhar a adaptação(...)"

conheça o Festival
http://www.mostrasescdeartes.com.br/mirada/

Os ingressos para o MIRADA começam a ser vendidos hoje (21 de agosto)! Você pode adquirir os seus aqui ou em qualquer unidade de São Paulo (capital) e do interior do Estado – todas integram a Rede SESC, com exceção do SESC Bertioga – ou no SESC SANTOS, de segunda a sexta, das 9h às 21h20, e sábado, domingos e feriados, das 10h às 18h30. Os ingressos custam R$ 10,00, R$ 5,00 e R$ 2,50.

se informe sobre os horários de O IDIOTA e outros espetáculos

Espetáculo-

Nacional

*
O Amargo Santo da Purificação
08/09
*
Arrumadinho
05/09, 11/09
*
Vida
04/09, 05/09
*
Gigantes pela Própria Natureza
05/09, 06/09
*
Filhotes da Amazônia
07/09
*
Savana Glacial
04/09, 05/09
*
Policarpo Quaresma
07/09, 08/09
*
O Mundo Tá Virado, Tá no Vai ou Não Vai.
Uma Banda Pendurada, a Outra em Breve Cai
08/09, 09/09
*
O Idiota – Uma Novela Teatral
06/09, 07/09, 08/09, 09/09, 10/09, 11/09
*
O Cabra que Matou as Cabras
06/09, 07/09

Internacional

*
Hecho en el Peru,
Vitrinas para un Museo de la Memoria
05/09, 06/09
*
Urtain
03/09, 04/09
*
Todos los Grandes Gobiernos
han Evitado el Teatro Íntimo
06/09
*
Passport
03/09, 04/09
*
Fiesta
10/09, 11/09
*
Espía a una Mujer que se Mata
07/09
*
El Foc del Mar
03/09, 04/09
*
El Desarrollo de la Civilización Venidera
05/09
*
Nada del Amor me Produce Envidia
09/09, 10/09
*
Mujeres Terribles
04/09, 05/09

Teatro de Rua

*
O Amargo Santo da Purificação
08/09
*
Arrumadinho
05/09, 11/09
*
Gigantes pela Própria Natureza
05/09, 06/09
*
O Mundo Tá Virado, Tá no Vai ou Não Vai.
Uma Banda Pendurada, a Outra em Breve Cai
08/09, 09/09
*
O Cabra que Matou as Cabras
06/09, 07/09
*
El Foc del Mar
03/09, 04/09
*
Este Lado para Cima – Isto Não é um Espetáculo
03/09, 10/09

Infantil

*
Filhotes da Amazônia
07/09
*
Espoleta
11/09


SESC Santos
Tel.: 13 3278.9800
Rua Conselheiro Ribas, 136 Aparecida

O SESC Santos, situado na Rua Conselheiro Ribas, 136, no bairro da Aparecida, foi inaugurado em 22 de novembro de 1986.

MERDA

domingo, 23 de maio de 2010

sábado, 22 de maio de 2010

Ensaio em Aiuruóca

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Caca Bernardes










concentração

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Adaptação de "O Idiota" é um dos destaques teatrais do ano


21/04/2010 - 07h15 | da Folha Online

Para assistir do início ao fim ao espetáculo "O Idiota - Uma Novela Teatral", é preciso fazer três visitas ao Sesc Pompeia. Não chega a ser teatro feito para quem gosta de novelas. Mas a "saga cênica" dirigida por Cibele Forjaz, adaptação das 600 páginas do romance "O Idiota", de Dostoiévski, também é cheia de personagens e subtramas que se cruzam em pontos diferentes no tempo, formando uma espécie de quebra-cabeça.

Assista trecho da peça "O Idiota"

Pode ser cansativo. Pode ser divertido também. Quem vê o espetáculo na ordem certa pode ter a agradável sensação de familiaridade com os personagens da peça, no último capítulo, exibido sempre às quintas e aos domingos. O primeiro está em cartaz às terças e às sextas. O segundo, às quartas e aos sábados.

O ator Aury Porto, que interpreta o príncipe Míchkin, acha que foi um erro ter divulgado as partes do espetáculo como peças independentes. "Alguns amigos que assistiram ao espetáculo em ordem inversa tiveram uma compreensão errada da história", diz. "Acho que o ideal é ver na ordem certa."

Lenise Pinheiro/Folha Imagem

Sylvia Prado em cena de "O Idiota", peça que é dividida em três partes e está em cartaz no Sesc Pompeia



Na fila para a segunda parte, no sábado, havia gente trocando informações e impressões. A escritora Deborah Goldemberg, 35, entre amigos, comentava o terceiro episódio, que havia visto dias antes: "A hora do trepa-trepa foi para mim algo assim epifânico", relembrou, olhando para o nada.

Assistir à peça fora da ordem não fez muita diferença para ela. Deborah não só já havia lido o livro de Dostoiévski como participou, há dois anos, de um workshop que deu origem ao projeto cênico de Aury Porto, Luah Guimarãez e Cibele Forjaz. Foi na Oficina Mário de Andrade que, com outros participantes, ela fez sugestões de adaptação para o texto. Na sua versão, a história aconteceria em Brasília. "Para mim, o Idiota seria uma espécie de Eduardo Suplicy", resume.

Na tentativa de explicar a referência, ela faz curta sinopse do livro: "O Idiota" fala de um sujeito "muito bonzinho e meio deslocado do ambiente em que vive". A Rússia ao fundo, no original, apresenta personagens de uma sociedade desamparada de sonhos e ideais. O Idiota, o príncipe Míchkin, é um contraponto ao rancor e desesperança que aflige seus pares. Seu caráter articula um imaginário contagiante. Ao fim do terceiro episódio, o bancário Yuri Capilé, 22, disse que ele próprio saiu "idiota" da peça. "Pelo amor de Deus, onde eu vejo outro deste?", perguntou, em referência ao tipo de espetáculo, em que os intérpretes atuam passando entre o público, tocando os espectadores sempre que podem.

O bancário perdeu o primeiro capítulo por falta de ingressos. Uma falha pessoal que, para ele sim, resultou na sensação de um ponto manco. O calço fica por conta das sinopses, lidas no início de cada um dos espetáculos.

O IDIOTA
Quando: ter. e sex., às 20h (1ª parte); qua., às 20h (hoje, excepcionalmente, às 19h), e sáb., às 19h (2ª parte); qui., às 20h, e dom, às 19h (3ª parte); até 9/5
Onde: Sesc Pompeia (r. Clelia, 93, tel. 0/ xx/11/3871-7700)
Quanto: de R$ 4 a R$ 16
Classificação: 14 anos

Matéria de Jefferson Del Rios e réplica de Aury

Entre os humilhados e os delirantes
Cibele Forjaz encena o vasto O Idiota, de Dostoievski, em três partes que alternam acertos e despreparos
17 de abril de 2010 | 0h 00
Jefferson Del Rios
- O Estado de S.Paulo

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100417/not_imp539433,0.php

Adaptar e teatralizar as 600 páginas do romance O Idiota, de Fiódor Dostoievski, é operação de risco. Não é pouca coisa dar imagens e vozes à jornada existencial do Príncipe Michkin visto como um perturbado risível ao não perceber os jogos de poder, dinheiro, sexo e conveniências numa São Petersburgo czarista, violenta e corrupta.

O confronto entre as forças da compaixão e da beleza, de um lado, e a de mentes sombrias, do outro, domina cada linha do enredo. O leitor devotado ao escritor russo (1821-1881) poderá estranhar a falta das nuances do original, mas quem estiver disponível para alternativas terá recompensas.

O dado foi lançado pela diretora Cibele Forjaz à frente de intérpretes vindos de vários grupos paulistanos. Realizou um trabalho designado às vezes como performance ou a busca da representação para além dos limites convencionais, sobretudo a do palco italiano. Outra relação com o público, agora não mais visto como a habitual plateia apenas observadora e silenciosa. Uma arte que incorpora a realidade externa ao trazer para dentro (ou para fora) do palco a aspereza das ruas, a crise das pessoas, a entropia das cidades convulsas. Quem se interessar por tais ideias lerá cuidadosas análises em Teatralidades Contemporâneas, da ensaísta Sílvia Fernandes (Editora Perspectiva, 243 páginas).

A encenadora apegou-se ao caráter folhetinesco do romance, que divide o enredo em ondas de tensão para segurar o leitor até o próximo acontecimento inesperado. Recurso que, ao longo do tempo, rendeu obras-primas ao lado de bastante literatice, e que permanece nas telenovelas atuais. A diferença límpida é o fato de Dostoievski ser genial. Sua obra extensa é tão abrangente que nela ecoa quase tudo, da história social às antevisões psicanalíticas. De tamanho talento é difícil falar de outra maneira. Seus personagens são "possuídos", entendendo-se por isso atitudes causadoras de crime, loucura e auto-aniquilamento (junto com a ânsia de redenção). Alguns títulos dispensam explicações (Humilhados e Ofendidos, Recordação da Casa dos Mortos, Crime e Castigo). A Editora 34 lançou traduções diretamente do russo por Paulo Bezerra, dentre eles Os Irmãos Karamazov e O Idiota (adaptado aqui por Aury Porto).

Ângulos. A montagem - a ser vista parcialmente ou inteira em três dias sucessivos - quis ser uma polifonia ao expor ângulos diferentes dos personagens, ora com intensidade próxima ao exagero, ora em deslocamentos ao longo de um galpão com vestígios da fábrica que foi no passado, arranjos cenográficos de impacto (uma linha de trem desdobrável em espelho d"água), refinamento poético nas luzes e na música, e, sempre, atuação veloz e sôfrega. Há momentos realmente bonitos e surpreendentes, outros refletindo a precariedade pontual da interpretação.

Preço. A primeira parte, ágil e colorida, conduz o público por três espaços. Na segunda, com trechos dialogados semi-estáticos, o rendimento é afetado, mas na terceira a invenção torna a brilhar. Cibele Forjaz sustenta elevado padrão estético, embora, ocasionalmente, opções de direção cobrem seu preço. Há um dado estranho na abordagem da batalha de sexos, absolutamente clara no romance. A atitude das atrizes Luah Guimarãez, Lúcia Romano e Sylvia Prado tem um ardente clima feminino, enquanto nas interpretações masculinas (à exceção do personagem Ragôjan, de Sérgio Riviero, ainda que com quedas de articulação) predomina certo tom amaneirado nas falas, gestos e olhares. Se a intenção é de sátira e/ou deboche, ela resulta deslocada. Em outra situação, Aury Porto, ator expressivo e simpático, oscila entre o jocoso e uma modéstia de cordel quando, na realidade, deve encarnar O Príncipe. Com um dossiê explicativo de qualidade, a peça alça voo sempre que capta a chama de Dostoievski. Felizmente é o que prevalece sobre tropeços possíveis de evitar. Ao final, O Idiota reflete a audácia dos que lhe deram vida sob os refletores.

Sesc Pompeia. R. Clélia, 93. Parte 1 (180 min): 3ª e 6ª, 20h. Parte 2 (120 min): 4ª, 20h; sáb., 19h. Parte 3 (120 min): 5ª, 20h; dom., 19h. R$ 16 (cada parte). Até 9/5.

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DOSTOIÉVSKI, NO MEIO E DENTRO DE NÓS


Ao ler a crítica de Jefferson Del Rios ao espetáculo “O Idiota – Uma Novela Teatral”, intitulada ENTRE OS HUMILHADOS E OFENDIDOS, publicada no dia 17 de abril de 2010 no Caderno 2 do jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, discordei em alguns pontos, sobretudo, em um ponto que me diz respeito diretamente, mas que ao mesmo tempo não considero uma questão estritamente pessoal. É, a meu ver, questão exemplar. Então, resolvi escrever essa réplica.

Tratarei aqui da passagem em que o crítico se refere à minha interpretação para o príncipe Míchkin. Assim ele escreveu:

“Em outra situação, Aury Porto, ator expressivo e
simpático, oscila entre o jocoso e uma modéstia de cordel quando, na realidade, deve encarnar O Príncipe.”

Considero que a apreciação do meu trabalho nesses termos tem raízes mais obscuras. Ela pode vir daqueles lugares recônditos aos quais os homens que se nomeiam orgulhosamente como civilizados tremem de medo de tocar: o “pré-conceito”. Um preconceito bem sutil, mas muito meu conhecido. O preconceito de origem. Sempre me esforço para esquecê-lo quando passo por ele, mas nunca o ignorei e muitas vezes o pressenti. E eu já passei por ele muitas vezes nesses vinte e dois anos de vida na cidade de São Paulo. Cidade que eu escolhi pra viver por vontade própria e que amei no primeiro dia através das árvores da Avenida Rebouças e do frio leve que batia naquele feriado de Nossa Senhora Aparecida. Pois o que acontece é que no teatro há tanto preconceito com a origem do que se chama genericamente de nordestino quanto em qualquer outro segmento social.

Sou sertanejo, nascido no campo, a cem metros de um engenho de rapadura, no município de nome Lavras da Mangabeira, localizado no limite entre o Cariri e o Sertão Central do Ceará. Desse lugar saí há muitos anos, mas lá eu vivi os anos fundamentais da vida de um homem, os primeiros sete anos. E é de lá que meu Míchkin vem quando chega da Suíça no começo da peça. O jumento que eu escuto e que tira Míchkin da letargia em que ele se encontrava depois de uma série de ataques, vive lá no Ceará. Foi lá que eu tive a única convulsão de toda a minha vida aos três anos de idade. Foi lá que eu ouvi meu avô paterno semi-analfabeto recitar de cor todos os versos do cordel da “História do pavão misterioso”. O mesmo avô que dizia em tom jocoso que ninguém precisa de duas roupas se só tem um corpo. Lá, na minha “Suíça canicular” eu tinha outro avô que usava cotidianamente camisas de mangas longas brancas e calças de tons pastéis e tinha pés muito arqueados e de ossos bastante salientes. A figurinista Joana Porto vestiu Míchkin com tons pastéis e deixou certos pés idênticos aos do meu avô à mostra. Pés que só são cobertos quando Aglaia ordena que Míchkin o faça para agradar uma elite que põe reparo em tudo e que não vê nada. E como Míchkin está apaixonado por ela como um gato (palavras do personagem Ragôjan), ele faz o que sua gata mandar. Míchkin pega ondas, vai vivendo, vai amando, de coração aberto, idiotamente...

Míchkin é um príncipe sem trono. Como ele mesmo diz no primeiro capítulo de nossa história: “Eu e minha prima Lizavieta somos os últimos da linhagem. Os Míchkin já não existem há tempos”. Ser Míchkin é estar deslocado, desenraizado. Mas também é estar no mundo todo porque o mundo é onde estamos e, nunca, antes, na história da humanidade, estivemos tanto na Terra toda quanto agora. Ou seria melhor no sistema solar? Sim, porque nesse exato momento há homens vivendo no espaço sideral.

O principado de Míchkin é da alma e do coração, não é da forma nem da aparência. No romance, assim como na adaptação, por mais de uma vez os personagens dizem entre surpresos e debochados quando são apresentados a ele:

- “Príncipe?! O senhor é príncipe?”

Ou noutra passagem quando lhe pedem uma opinião:

- “Mas... O que é o príncipe?”

O principado de Míchkin é sertanejo porque Míchkin sou eu, e eu sou onde eu estou. E como Míchkin está na roda, ele é todo mundo que ousar entrar em contato com ele em si.

O crítico se refere a mim como um ator simpático. Fui realmente simpático ao responder a uma questão que ele me pôs inconvenientemente durante uma sessão de apresentação da terceira parte da peça.

Aproximei-me dele para contracenarmos, e pus em suas mãos uma faixa de gaze pra que ele a colocasse na cabeça de Míchkin que havia sofrido um ataque epilético na parte anterior da peça, como ele mesmo presenciou. Aconteceu que ele, um crítico de teatro, totalmente sem jeito para um simples jogo dramático, resolveu falar comigo e me disse:

- “Um Míchkin pernambucano!?”

Assim mesmo, entre exclamativo e interrogativo. E com uma delicadeza estudada de salão.

A essa questão descabida para o jogo proposto eu respondi, depois de controlar minha irritação:

- “Não. Cearense. Do Carirí.”

Essa montagem teatral, como muitas outras que têm acontecido nos últimos anos nos teatros da cidade de São Paulo, pede interatividade sagaz do espectador com a obra, conexão dentro da situação dramática. Não pede esse tipo de conversa de coquetel.

Mas se, ao invés da simpatia do ator, ele tivesse entrado em contato com a empatia que o personagem tem causado em tantos espectadores ligados na poesia, teria visto minha interpretação com outros olhos e teria tido a chance de dialogar com o mundo do pavão misterioso no qual a heroína é uma Condessa chamada Creuza. Ou seria esse o nome de alguma doméstica migrante do Nordeste que limpa uma casa paulistana nesse momento?

Míchkin, que significa ratinho, à primeira vista é tratado por Nastássia como um serviçal para depois ser amado por ela como um “nobre de verdade” em oposição aos nobres de título que ela conhecera. Em erro similar caíram aqueles que não viram em Jesus, o Príncipe dos Céus. O paralelo, como sabido, não é mero acaso.

O romance de Dostoiévski, assim como a peça, se chama O IDIOTA, com todas as letras maiúsculas. O Príncipe, assim mesmo como está escrito na crítica é outra história, de outro autor.

Nada mais antiquado do que tentar apreender uma obra artística com um pensamento cultural centralizador. No universo da cultura não há centro. Isso de centro e periferia é coisa de geometria que serve muito à economia capitalista.

Por isso considero uma cegueira do crítico caracterizar um desempenho de cordel como algo desprovido de realeza.

Como diz Míchkin: “Primeiro é preciso não compreender muita coisa...”

O cordel é uma literatura popular das mais refinadas que a humanidade criou.

Ademais, a nossa leitura dos personagens, como de toda a história é alegórica, não é realista. Eu não sou loiro, como na descrição que o autor faz do personagem no livro, e não pintei meu cabelo, conscientemente.

O crítico trata Dostoiévski como gênio, mas soa abstrato, cheio de deferência. Dostoievski é genial sim, mas é um gênio quente. E assim como ele amava o Cristo vivo nós o amamos em nossos corpos e não no que ele foi. Ele está dentro e no meio de nós.

Quando todos o detestavam, Míchkin, o príncipe pobre e idiota, chegava a uma compreensão sobre os homens de uma generosidade nobre e ímpar: “Não há nada de homens atrasados e maus, mas uma matéria toda viva.”

Por um triz, o crítico que conviveu conosco por três noites consecutivas, quase se viu um idiota. Ficou preso a velhos preceitos e perdeu essa oportunidade. Mas, a matéria está viva. Ainda.



Aury Porto

São Paulo, 19 de abril de 2010.

Dia do ÍndioTA (Essa referência está na peça. Delicadamente.)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O IDIOTA fotos de Lenise

blog CACILDA
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